terça-feira, 3 de maio de 2011

Destino de Penélope

Será que o destino de todas as mulheres é a espera eterna? Perguntei ao sair do shopping center e me deparar com uma fila de penélopes tecendo o destino na entrada principal. “Está esperando quem?” – quis saber. “Meu marido”. “Meu noivo”. “Meu irmão”. “Meu pai”. “Um amigo”… Todas esperavam um homem. Uma delas comia pipoca com a displicência dos sem pressa, duas conversavam amenidades para matar o tempo, uma terceira parecia triste, talvez só cansada. Vi uma que fazia tricô, de pé, recostada à jardineira. Um ponto, uma laçada, a verdadeira Penélope da Odisséia, cosendo a mortalha de dia, para desfazer o trabalho à noite; enquanto Ulisses, de motocicleta, carro, bike ou “buzú” (em bom baianês), atravessa meia Salvador para resgatá-la da solidão. Divaguei no destino das moças e por uma fração de segundo, quis ficar ali, tecendo o destino com elas, voyer dos seus encontros. Viriam todos os maridos, noivos, irmãos, pais e amigos? Alguma ficaria para trás? Seria testemunha da dor do abandono? Já fui esquecida na escola, tinha quatro anos, por uma tia sempre atarefada…Decidi não invadir o momento privado das moças. Seu abandono, ou o abraço de saudade, a bronca pelo atraso, o frio selinho dos que já não vivem como apenas um, os pequenos dramas e a satisfação de ser a primeira resgatada pertenciam às suas odisseias diárias. Não tinha o direito de assistir. Pus o destino na bolsa, ajeitei-a nos ombros e fui embora. Em casa, alguém á minha espera…

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